sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

O nosso hoje


Opinião

Começam a faltar mais coisas do que era previsível na nossa política, começam a faltar todas as bases da política. Já nem falo da falta de ideias ou de pessoas, falo da falta de motivos. Começa-se a deixar de saber o porquê da política.

Não vale a pena disfarçar e dizer que a culpa é do status quo e que a mudança passa pela juventude, estando as boas ideias connosco. Não vale a pena. Enquanto todo esse tipo de juízos continuar a ser conversa apenas, a juventude deve esperar para falar. Se assim não for, se falarmos apenas para dizermos que somos diferentes, tornamo-nos igual aos que criticamos.

O XX Congresso Nacional da JSD foi um bom exemplo da ambiguidade paradigmática da juventude portuguesa. Tivemos um modelo de congresso novo, onde os delegados eram convidados a debater o tema por si escolhido em grupos de trabalho específicos. Tínhamos, do outro lado e ao mesmo tempo, um palco principal do Congresso ocupado pela disputa e intriga pessoais, a absoluta falta de ideias concretas para o futuro - nem digo do país - da juventude.

E assim as juventudes partidárias tornam-se o estágio ideal para ser militante de um partido político. É surpreendente verificar que as jotas não estão a aprender com os erros dos partidos, mas sim a apreender os seus erros. Os tiques são os mesmos, o comportamento, o estilo, a mensagem vazia, os projectos repetidos - o nada. Verifico, cada vez mais, que as ideias na política surgem da seguinte forma: tem-se ideias porque se quer ser líder, ao invés de querer ser líder porque se tem ideias. É assim que se falha e nós, simplesmente, aceitamos tudo isso, de uma forma ou de outra.

Ontem foi mais um dia em que se devia recordar a memória de Francisco Sá Carneiro, mas - mais do que isso - honrá-la. Surge cada vez mais gente a citar Sá Carneiro, por tudo e por nada, para justificar o grande vazio que há na criatividade política de hoje. Vejo todos os jovens a falar de nova política, celebrando tal coisa como um grande acto de coragem. Na minha opinião, coragem seria ter uma juventude que quisesse recuperar a velha política: dos valores, das causa, da luta e que pusesse o país à frente de tudo. A política de Sá Carneiro.

Hoje, para que o ontem deixe de ser só ontem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Independentemente de "velha" ou "nova" política, o importante seria fazer mesmo política e não meramente politiquice de jogos de interesses.
Continuaremos alguns sempre a lutar pela verdadeira social-democracia, assim espero...
Opinião interessante, gostei da temática.

Força, companheiro

Filipa Correia da Silva
(JSD/Faro)